30 maio 2010

sabonete de comer

você foi embora
não me esperou.

perdi uma trepada
ganhei outra

bem-bem gostosa.

29 maio 2010

Quase isso

Faz uma hora que você está na frente do computador, vagando pela internet, tentando escrever o texto que vinha escrevendo pelo caminho. Enquanto esperava o ônibus e não tinha caneta, enquanto caminhava desde o ponto até sua casa, parando na conveniência para comprar dois salgados, o texto estava ali, encorpado, você o segurava, tinha o começo, sabia por onde queria ir, por onde passar, sabia o que tinha vivido e o que queria guardar, encaixotado em palavras. Era só chegar e botar no papel. Mas aí você chega e, depois de afagar a cachorra empoeirada, resolve tomar um suco de limão. Suco de limão. Depois de algumas cervejas (não é proibido beber em serviço) e dos dois salgados, que comeu enquanto caminhava, sente uma vontade louca de tomar suco de limão. Tinha vinho e cerveja na geladeira, uísque e tequila no armário, mas você sente uma vontade doida de tomar um suco de limão com bastante açúcar, mas que diabos. Prepara um copo, senta na frente do computador, sorve meio copo em três goles. Sem perceber, dá descarga no álcool que sustentava o texto, e a memória etílica assustada foge da sobriedade. Você sabe o que ia escrever, mas as sensações se perderam e, com elas, o tom. A voz sumiu. O que se sente agora é a ausência de algo que não há. É como procurar um fio de cabelo solto que roça sua pele por entre as roupas, causando um incômodo intermitente. Você procura, procura e não acha. Sabe onde está, mas não consegue pegá-lo, não consegue vê-lo ente os dedos. E essa agonia da existência inexistente te faz comer os cantos das unhas quase todos, teu estômago embrulha, tua cara está toda marcada de pontos vermelhos recém cutucados. Sabe que está desviando do assunto, pegando um falso atalho. Sabe o que quer dizer, poderia dizer em outro tom, mas não consegue dizer, as palavras travam na garganta. E aí se perde por aí. Volta para internet, vagueia um pouco, pensando nessa coisa de trocar o “eu” por “você”, que parece estar na moda entre os blogs de pretensa literatura. Engraçado que, quando escreve “trocar o ‘eu’ por ‘você’, se dá conta de que poderia dizer isso sobre o que não está conseguindo dizer. Não com o mesmo significado, não querendo dizer tornar-se personagem de si mesma, esconder-se sob uma terceira pessoa, mas botar alguém exterior no lugar do teu eu. Talvez isso tenha te deixado tão irrequieta. Isso e o fato de saber que, além de ser impossível preencher o teu eu com outro eu, de outro alguém, não vai te sossegar porque não é por aí. Talvez o que queira mesmo é botar outro eu do lado do teu eu. Mas são tantos os eus que queres, que no fim não quer nenhum. São tantos os eus possíveis, que fica sem nenhum. É como se nunca mais fosse existir um outro eu que faça teu eu se arreganhar sem ficar vermelho, que o faça espontâneo como uma criança não cerceada. Mas todos sabemos que não é assim, que a vida é feita de encontros, embora haja tantos desencontros pela vida. Ou quase isso.

10 maio 2010

Aquele cheiro

Aquele cheiro
sabe aquele cheiro
de mulher no cio
aquele cheiro
de que você tanto gostava?

Aquele cheiro
que você me devolvia no beijo
você me chupava
depois me beijava
e aquele cheiro
ficava.

E aí não era mais preciso o beijo
só o cheiro
seu pau ficava duro
e eu já muito molhada
quase gozava
quase pingava.

Ah, aquele cheiro
sabe aquele cheiro?

05 maio 2010

Quando eu era criança
não conseguia entender
por que as pessoas choravam de felicidade.

Hoje sei.
Eu era só tristeza
e felicidade reprimida.