31 janeiro 2011

alt + ismo:

autismo induzido
para criar um poema
para sobreviver
para sair dali

para sorrir sozinha
quando as pessoas
não te fazem rir
te aburrem
e ressaltam
toda tua tristeza
todo teu silêncio
te deixam tímida
como aquela menina
de vestido e sapatinho
que esconde o rosto
na saia da mãe

mas no bar não há saia
só você e as pessoas
e uma máscara puída
uns retalhos de papel
uma caneta
álcool
seriedade
e a vontade de dar alt + esc
para brincar de autismo.

*setembro 2010 (?)

caos calado

entre sapatos
homens, tênis
chinelo levado
entro em casa
e tropeço num
cadarço

sinto o barulho
suspenso, tremo
jogo a bolsa por
cima de outras
cinco

o caos calado diz
eu tô em ti assim
como os paus
intermitentes que
te penetram e,
bagunça, persisto
enquanto você se
perde.

sim, me perco
querendo achar
procurando
procurando
procurando

procuro tudo
muita coisa

mas como achar
em meio a textos
e canetas por
sobre o fogão
meias sujas na
cadeira
louças acumuladas
roupas empilhadas
vizinhos que gritam
cachorra que late
amigos que calam
parentes que invadem.

cadê você que eu
procuro.


*primeiro semestre 2010

28 janeiro 2011

vinha com uma mão no pau, a outra na garrafa, cambaleante, balbuciando alto “oh, meu deus! meu deus!”. Era só mais um bêbado fiel qualquer, antes de continuar: “ô, meu deus, não me deixa cair as calças!”

12 janeiro 2011

amarmarandar

do décimo quarto andar
a casa grita assovios
pelas frestas esquecidas
e o bichano invisível
resmunga cada pisão no rabo

do mar
o vento traz
o ensaio da escola de samba
que balança como copa
de mangueira despenteada

do verbo amar
meu coração ressona só
e muito bem acompanhado.