15 dezembro 2011

Ma Moses

vou dar um tempo de mim
vou até a esquina do quarto
botar a cabeça pra fora
espremer os olhos
que dormiram um inverno
e gritar
do fundo das minhas pálpebras;
parece que agora a voz vai

serei louca
serei trôpega
serei outra
serei roupa velha
gente velha
cadarço desamarrado
copo vazio
touca de banho
serei pochete e chiclete
quem sabe periguete?
usarei salto alto
comprarei cigarros
tecerei calvários
construirei macas
ignorarei peças
amassarei flores
distribuirei mágoas
darei dores
darei de ombros
darei pra escombros...

vou dar um tempo de mim
abandonar a janela e caminhar
traquear e sorrir como se não fosse comigo
acariciar peixe morto na peixaria
ser estranha e velha

antes, vou enfiar a cabeça dos vizinhos
na TV ligada 24h, há duas semanas, no mesmo canal
pro globo inteiro ouvir

depois, e sempre,
beijar a boca de Hilda Hilst
que repousa numa linda fronha com rendas francesas.

13 dezembro 2011

telefone sem fio


as vontades
dentro de si
confusas.

não sabe
se escreve
em prosa
ou verso

se escreve
ou lê

se manda carta
ou finge quê.

não sabe o quê
não tem alguém.

lá do fundo
brotam palavras
frígidas
fracas
cruzadas

letras aleijadas pisca-piscas
que tremem o coração
letras que têm pernas
masnãoandam
que dão as mãos
mas estão

sozinhas.

l
   e
      t
        r
          a
            s
cayentes

carência
demência
dormência

dormir.

que o inacabado
seja pra sempre

que o que não é
seja o que for

*outubro 2011

09 dezembro 2011


não, eu não vou te dar um ménage.
eu sequer vou te dar.

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escrito no útero:
válido enquanto o sangue não vem.