06 junho 2012

tropelias

eu queria que mudar fosse um poema.

que as coisas se ajeitassem sozinhas
assim como palavras em verso.

que os versos fossem caixas
para onde as coisas fossem palavras.

ao invés de encaixotar, empalavrar
empilhar versos de
roupas livros sapatos colchão computador 
estante bicicleta patins vasos de flor

eu queria a mudança numa sentada
numa trepada.

caneta em cima de papel
letras em tropel
trôpego, por fim.

eu queria que mudar fosse um poema
de primeiro verso catarina
e último, alegria. 

01 junho 2012

despreenchimentos

quando tudo 
é despedida e desassossego
e a casa
sendo desfeita
vai refazendo lembranças
e lágrimas

o silêncio, eu preencho com
palavras deixadas em papéis antigos

o vazio, com
comidas inventadas

tesão, com
masturbação

a dor, com 
o ar que, calculado, entra e sai dos pulmões

tristeza, com
Hypericum perforatum, a tal erva-de-são-joão

e para a solidão
eu tenho saudades.