07 abril 2009

A primeira vez que ouvi Teresa

......Há dias que penso em escrever. Há dias que estou só, só com meus botões barulhentos. Ao invés de um silêncio calmo, como quando se está deitada na rede, um monólogo interior monocromático grita comigo, numa velocidade que de tão lenta torna-se rápida, ou o contrário.
......As idéias que surgem de repente, de repente se vão. Dorme-se quinze horas seguidas, e os sonhos, que passam como carros na avenida, carregam-nas para longe. Não as deixam ficar nem para uma xícara de café feito no bule italiano.
......Dia desses, enquanto estava deitada na maca de um salão de beleza, com as pernas abertas para que me depilassem a virilha, o vermelho-sangue das paredes da sala de quatro metros quadrados me cuspiu para fora dali. Assustada com a inconveniência da cor, deixei-me acolher na chatice das conversas de salão. Por sorte, não me lembro o assunto. Lembro-me apenas que a voz da quarentona dona do lugar era bonita quando separada do corpo. Era lisa, macia e delicada. Nem o fato de a gaúcha tentar bancar um acento paulistano ofuscava a beleza melódica da voz.
......Isso me lembrou Bandeira. De pernas abertas, fiquei pensando no texto que escreveria naquele dia. Era como se o corpo tivesse ficado vinte anos esperando pela voz. E mentalmente escrevi partes do texto e anotei, sabe-se lá onde, comentários para o que seria uma crônica. Duas semanas depois, as várias quinze horas dormidas não deixaram nenhuma linha. Apenas a voz ressoa ainda.
......É como se meu cérebro tivesse nascido só com memória RAM.

2 comentários:

  1. acho q o meu cérebro tb... mas bem, tá um bom texto, e agora tá escrito...continue assim!! hehe

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