16 maio 2009

A primeira vez que vi Tereza

para Carlota.

.....É difícil escrever uma crônica quando se está pensando na cerveja gelada e na mesa de bar, bem mais acolhedoras do que a sala fria e silenciosa do laboratório de informática da universidade. Claro que poderia escrevê-la (e talvez mais bem escrita) no bar, mas teria que ter um prazo maior do que o final da tarde e início da noite, já que não pretendo sair cedo do boteco para digitar o texto, imprimir e levar o papel, a tempo, até o escaninho da professora. Menos mal que a cerveja pode ficar para depois, mas talvez o amigo não esteja mais disponível. Enfim...
.....Há pouco, na lanchonete repleta de estudantes das ciências da saúde, enquanto comia uma torta integral de banana – e pensava na cerveja – vi uma menina que se destacava do resto das árvores natalinas que andavam pelo local. De início, como estava de costas, não sabia se era ela ou ele. Tinha cabelos retos, um pouco acima dos ombros, e vestia um suéter branco. Ao virar de perfil, pareceu mulher. Mas ainda podia ser homem. Só tive certeza de que era mulher quando pude ver a calça preta de malha que contornava suavemente a bunda bem delineada. Pude então experimentar novamente a sensação de se sentir (sim, experimentar novamente e sensação de sentir) atraída por uma mulher qualquer, que não uma amiga.
.....A primeira vez que isso aconteceu foi numa outra lanchonete da mesma universidade. De repente, eu a notei. Foi algo à primeira vista; desejo digo. Tinha cabelos pretos compridos e me olhava com os olhos verdes, meigos e agressivos. Fingi que continuava lendo o texto, cujas palavras já me fugiam, para poder fitá-la de tempo em tempo. Trocamos olhares gostosos, e só. Precisava encontrar meu companheiro – para não dizer namorado e cair no senso comum da monogamia.
.....Esse experimentar novamente e essa sensação de se sentir atraída por uma mulher deixa a gente mais leve – ou mais pesada. Uma sensação de liberdade que só se conhece vivendo. Acho que quem pode dizer para si mesma que os dois sexos lhe atraem, quem vive isso, flutua por dentro – ou usa botas de chumbo.
.....Sei lá. É gostoso ter vontade de dormir com a amiga que agora está na Inglaterra.

* escrita em outubro de 2008, para a disciplina Redação VII.

2 comentários:

  1. Ai,que pena,nunca senti isso!
    Mas acho lindo sentir e dizer!
    bj

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  2. Texto maravilhoso! Muito gostoso de ler. Eu adorei.
    É tão bom quando percebemos que o impossível não existe. É tão bom quando percebemos o quanto é chato a previsibilidade. Mas o melhor é a sensação de estar leve - ou pesado.
    Porque viver é ótimo.

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