09 outubro 2010

Escrevendo a tristeza

.....Às vezes me faço triste e fico regurgitando pensamentos reticentes. Meus ombros pesam e meu estômago faminto teima em rejeitar a comida. À mesa, penso em esquecer do mundo e viver comigo mesma, isolada numa pasárgada inabitada. Passar quanto tempo queira eu ao lado do meu monólogo interior, respondendo apenas à própria voz. Conversar apenas com um ser que não fala e que ignora a consciência e o conhecimento esnobe e ignorante. Ouvir só palavras silenciosas. Poder escrever desenhos esfumaçados nublados com a neblina que vem de dentro de um momento. Abrir a boca num bocejo bocejado. Saudar a preguiça espreguiçando um olá descompromissado que vagarosamente ecoa uma canção de ninar. Acordar quando estiver cansada de dormir e dormir quando o sono fechar os olhos. Olhar para o tempo com olhos de ressaca não dissimulada e soltar um grunhido debochado. Arrotar letras iletradas, soluçar bolhas estapafúrdias e calçar calçados apertados. Escutar o tic-tac-tic-tac-tic-tac do relógio, observar o vai-e-vem do pêndulo e não pensar nas horas que não existem. Depressivamente ser depressiva sem que isso deprecie. Ser uma escolha involuntária desobrigada de obstinação. Abster-se de abstinências. Tecer sensações emaranhadas em molduras de vento esvoaçante num chumaço de ar branco.
.....Cansar de rabiscar empurrando o cursor. Parar.


*escrito em 2007

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