19 abril 2012

Deixar ir

Uma injeção prontinha entrando na veia. Rápida e indolor. Ânimo para prepará-la, não existe. Quer o fácil. De difícil, já basta a vida. Morrer não pode ser também tão complicado. Quer o simples. Não a dor. Dor, já basta a de viver. Morrer, sem ofender ninguém. Quer aquilo que não fazem os que vivem. Ofendem. Abandonam. Cada um segue seu curso. Cada um cercado da própria solidão. Do próprio abandono. Da própria ofensa. Resignados em si. Assim se sobrevive. A tela do computador é o escudo. Estar ao lado mas ter um dia cheio é a escusa. Não é um, são vários. Morrer, morrer, morrer. Poupar os outros de um martírio inútil. Poupá-los de ouvir. De aporrinhações. De choramingos. Deixar-se ir. Calar-se à força, já que o desespero não cala, engatilha. Morrer gritando: abrace o morto, tanto quanto você não abraçou em vida.

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